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Reforma tributária e federalismo fiscal: quem ganha e quem perde?

Câmeras de fiscalização
Foto: Lianhao Qu via Unsplash

Por Isaac Clemente Coelho 

A Reforma Tributária brasileira, aprovada em 2023 e em fase de implementação, representa uma das maiores transformações no sistema tributário nacional. Entre os diversos aspectos debatidos, um dos mais impactantes é o seu efeito sobre o federalismo fiscal, que define a autonomia financeira dos entes federativos e a distribuição da arrecadação entre União, estados e municípios. Diante desse novo cenário, surge a pergunta central: quem ganha e quem perde com a nova estrutura tributária?

A nova estrutura tributária e o impacto no federalismo

A principal mudança promovida pela Reforma Tributária é a substituição de vários tributos por dois novos impostos sobre o consumo: o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS). O IBS, de competência estadual e municipal, substituirá ICMS e ISS, enquanto a CBS, de competência federal, substituirá PIS e Cofins.

Com essa unificação, há um deslocamento significativo da tributação da origem para o destino, o que impacta diretamente estados produtores e consumidores. Estados como São Paulo, Minas Gerais e Paraná, que historicamente se beneficiam do ICMS cobrado na origem, poderão enfrentar desafios na adaptação a essa nova lógica de arrecadação. Em contrapartida, estados do Norte e Nordeste, que são majoritariamente consumidores, tendem a receber uma fatia maior da arrecadação tributária.

Quem ganha?
  1. Estados e Municípios Consumidores: Com a tributação no destino, esses entes federativos devem experimentar um aumento na arrecadação, tornando suas finanças mais sustentáveis. Isso beneficia especialmente estados menos industrializados, que historicamente arrecadavam menos ICMS.
  2. Empresas e Setores Produtivos: A simplificação tributária e a previsibilidade na arrecadação devem reduzir custos burocráticos e litígios fiscais, favorecendo a competitividade das empresas. A incidência não cumulativa também evita a tributação em cascata, beneficiando a produção.
  3. Municípios de Regiões Menos Desenvolvidas: Como parte do IBS será destinada aos municípios, muitos que antes recebiam menos repasses terão um alívio fiscal, podendo investir mais em infraestrutura e serviços públicos.
  4. Consumidores: Com a desoneração da produção e a redução de distorções tributárias, há expectativa de que os preços finais dos produtos e serviços fiquem mais acessíveis, beneficiando a população em geral.
Quem perde?
  1. Estados Produtores e Exportadores: Com a arrecadação deslocada para o destino, estados que dependiam do ICMS na origem sofrerão perdas financeiras, exigindo mecanismos compensatórios durante o período de transição.
  2. Setores Beneficiados por Regimes Especiais: Setores que antes tinham incentivos fiscais e regimes diferenciados podem enfrentar dificuldades com a nova estrutura, que visa reduzir distorções e eliminar tratamentos preferenciais.
  3. União: A reforma fortalece estados e municípios, descentralizando parte da arrecadação que antes ficava concentrada no governo federal. Isso pode levar a uma redução da capacidade de intervenção da União nas finanças públicas.
  4. Empresas com Cadeias Complexas de Produção: A adaptação ao novo modelo tributário pode representar um desafio operacional e financeiro para empresas com estruturas fiscais mais intrincadas.
Desafios e oportunidades para o federalismo fiscal

A transição para o novo modelo será gradual, estendendo-se por vários anos, com mecanismos de compensação para minimizar impactos negativos. O Comitê Gestor do IBS terá um papel fundamental na administração e distribuição da arrecadação, o que pode gerar desafios políticos e administrativos.

Se bem conduzida, a reforma pode tornar o sistema tributário mais eficiente, equitativo e favorável ao desenvolvimento econômico. Contudo, os desafios de implementação e os interesses divergentes entre os entes federativos podem gerar atritos e disputas judiciais.

Considerações finais

A Reforma Tributária altera significativamente o federalismo fiscal no Brasil, redistribuindo receitas e impactando a autonomia financeira dos entes federativos. Embora haja ganhadores e perdedores no curto prazo, a longo prazo, o objetivo é criar um sistema mais justo e eficiente.

O sucesso dessa transição dependerá da capacidade dos estados e municípios de se adaptarem à nova realidade, bem como da habilidade do governo federal em conduzir esse processo com transparência e equidade. Para investidores, empresas e gestores públicos, acompanhar essas mudanças é essencial para tomar decisões estratégicas no novo cenário tributário brasileiro.


Isaac Clemente Coelho é especialista em economia e contabilidade, com formação em Economia, Contabilidade e Finanças. Atualmente, atuo como Perito Judicial na Justiça Federal do Paraná, Diretor Empresarial e mestrando em Administração pela UFPR, com ênfase em Gestão de Organizações, Liderança e Decisão.


Os artigos escritos pelos “colunistas” não refletem necessariamente a opinião do Portal da Reforma Tributária. Os textos visam promover o debate sobre temas relevantes para o país.

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